Quando me formei em educação física, decidi seguir a carreira acadêmica e surgiu uma oportunidade de ingressar no mestrado em uma área totalmente desconhecida para mim: os transtornos alimentares. Após muita observação do trabalho de uma equipe multidisciplinar referência no tratamento dessa síndrome psiquiátrica, resolvi arriscar e mergulhar nos estudos.
Compreender os transtornos alimentares e desenvolver empatia pelos pacientes foi um grande processo de ressignificação para mim. Quebrei muitos preconceitos e revisitei o meu ser interior várias vezes, a fim de analisar como os benefícios da prática regular de exercícios não estavam presentes na vida daqueles pacientes que se exercitavam numa relação doente com a comida e com o corpo.
O incomodo em ver a equipe multiprofissional restringindo (e até proibindo) a prática de exercícios me fazia estudar mais. Realmente aquela prática de exercícios não poderia contribuir com a saúde, porque o momento de se exercitar para esses pacientes, trazia à tona mais pensamentos e crenças negativas e distorcidas, logo não contribuía com a melhora do quadro.
Os estudos sobre o assunto foram crescendo e o que eu percebia na prática, estava sendo consolidado na teoria em diferentes países. Vários nomes surgiram para descrever a prática de exercícios em pacientes com transtornos alimentares, e dois se destacaram: o exercício excessivo e compulsivo.
De 2012 para cá com os estudos da pesquisadora Justine Reel, o termo exercício disfuncional parece estar guiando um consenso entre nós, estudiosos desse assunto. E a solução para melhorar a relação com o corpo por meio da atividade física é proposta como exercício intuitivo. A partir da minha pesquisa para o livro Nutrição Comportamental e meu trabalho de especialização na Unifesp, pude ampliar essa visão da doença (transtorno alimentar) para a saúde (bem-estar pleno) e propor o Exercício Intuitivo Integrativo.
O conceito de se exercitar com corpo e a mente integrados não é algo inédito. Aliás, é uma busca desde os gregos, civilização que deu origem a cultura ocidental e da Educação Física. No entanto, de tempo em tempos, esse conceito vai sendo estudado por diferentes óticas, e termos inovadores vão surgindo para relembrar as pessoas a intenção original de alguns comportamentos e práticas corporais.
É muito bom que teorias se reacendam para que nós, profissionais, que acreditam na prática de exercícios com propósitos maiores do que simplesmente, moldar o corpo, ou ainda compensar a alimentação, se reúnam para relembrarmos a população que o exercício físico regular pode transformar, beneficiar nossa saúde em várias dimensões e nos tornar mais despertos do quanto nossos pensamentos e ações impactam no todo, afinal de contas, cada um de nós correspondemos a uma unidade de um todo que se chama humanidade.
Esse post foi escrito por Paula Costa Teixeira.
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